Em 15/06/2019

 

Da rapadura ao rio: as façanhas da vida de um boaventurense heroico

 



          Por Redação da Folha - São 93 anos de vida e muitas lembranças: memórias de um tempo em que José Bernardo Neto unia força e perícia em seus músculos e sentidos: força para vencer as águas bravias do rio Piancó no transporte de gente e perícia para notar o momento em que o caldo de cana fervente estava pronto para se transformar em uma boa rapadura.

            Como mestre de engenho, ele ganhava o sustento dos nove filhos trabalhando no fabrico da rapadura e, considerado melhor do seu tempo, atuou nas principais moendas do município de Boa Ventura, entre elas Nazaré, Chatinha, Cláudio Arruda, Deocleciano Pinto, Paudoila e Capoeira dos Santos.

            Já como voluntário, ajudou muita gente em um tempo em que Boa Ventura, sem pontes e estradas e cercada a oeste pelo rio Piancó, ficava isolada da maior parte de suas comunidades rurais e de Itaporanga no período chuvoso. Exímio canoeiro, transportou, por décadas, centenas de pessoas (crianças, idosos e mulheres), de um lado a outro do rio. Arriscou a própria vida para abrir caminho nas águas e salvar pessoas.

            Em uma das muitas urgências que atendeu, seu Zé recorda o chamado da família de uma mulher grávida e com graves problemas de saúde. Ele precisar ir buscar socorro médico em Itaporanga, mas, naquele tempo, não havia comunicação nem transporte. Sem outro meio, o bravo boaventurense jogou sua canoa no rio e desceu na correnteza do Piancó, enfrentando águas violentas, vento e entulhos fluviais em uma longa e temerária trajetória.

            Depois de percorrer muitos quilômetros, aproveitando a velocidade das águas e enfentando o temor de uma virada da embarcação rudimentar, finalmente o canoeiro chegou a Itaporanga e cumpriu sua missão: avisado sobre a gravidade do caso, o médico pegou um Geep e correu a Boa Ventura. Deu tudo certo: mãe e filho foram salvos.

            Hoje, esquecido pela história e vivendo em um conjunto popular na periferia de Boa Ventura, seu Zé fala com orgulho e alegria do seu passado, mas, em uma ironia da vida, o homem, que experimentou tanta fartura d’água, vive agora em um lugar sem água nenhuma. Sua casa, como as demais do bairro, não tem água por negligência da Cagepa e todos dependem do carro-pipa, tão humilhante quanto insuficiente.

 

 

             

             

 

 

 

 


 

 
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