Em 04/10/2019

 

Vítima de erro judicial, itaporanguense conseguiu a liberdade, mas “minha cabeça continua presa”

 



            Por Redação da Folha – Quase seis meses depois de experimentar o pior momento de sua vida, vitimado por uma profunda injustiça, o itaporanguense Severino Rodrigues da Silva Júnior, conhecido como Júnior Malaquias, ainda não se libertou do trauma emocional que viveu e hoje faz tratamento psiquiátrico contra transtornos de ansiedade e depressão. “O medo me persegue, não estou conseguindo nem sentar na calçada de casa, é como se tudo fosse se repetir, mesmo eu tendo a consciência que não serei preso, que nada vai acontecer comigo”, lamenta o jovem de 28 anos, que é casado e pai de uma menina. No entanto, somente agora conseguiu forças para falar publicamente sobre o caso e conversou com a Folha na tarde dessa quinta-feira, 3.

              Todo esse abalo psicológico de Júnior, que é filho da professora da rede estadual Lourdes Malaquias, figura querida e popular na cidade, tem relação com o dia 16 de abril deste ano: o que aconteceu naquela data alterou definitivamente o rumo de sua vida. Ele foi preso injustamente acusado de um homicídio em Santa Rita, cidade onde nunca havia pisado os pés.

               Era de manhã e ele estava no trabalho. Na época, laborava em uma empresa que presta serviço de manutenção das escolas da rede estadual de ensino e cuja sede fica no conjunto Miguel Morato, em Itaporanga.  Júnior conta que foi surpreendido por um delegado e dois agentes da Polícia Civil de Santa Rita que portavam um mandado de prisão preventiva da 1ª Vara da comarca santa-ritense contra ele pelo homicídio ocorrido em 2008, quando ainda era adolescente e vivia permanentemente em Itaporanga.

                Preso e conduzido inicialmente para a delegacia de Patos, onde passou o resto do dia e a noite, e, depois, levado à Central de Polícia de João Pessoa, Júnior Malaquias narra que passou a maior parte desse tempo algemado, inclusive durante a longa viagem, e que sofreu humilhações e tortura psicológica por parte dos agentes. Somente no dia seguinte à prisão, quando já estava na polícia da capital é que pode falar com a família por telefone, mas, neste momento, já existia uma mobilização em seu favor junto à Justiça de Santa Rita na tentativa de revogar a prisão.

                Ao tomar conhecimento por terceiros da prisão do filho e mesmo muito abalada emocionalmente, a professora Lourdes Malaquias mobilizou-se imediatamente, constituiu advogado e, com o apoio de outros familiares, conseguiu a revogação da prisão preventiva antes do jovem ser levado para o presídio. Não foi difícil para o advogado descobrir que havia ocorrido  erro judicial: era uma questão de homônimo. O verdadeiro acusado do crime tem o mesmo nome do inocente. “Faltou um pouco de atenção da polícia, do Ministério Público, que me acusou sem prova, e da Justiça, e eles também deveriam ter visto que, quando houve esse crime, eu era menor, e mesmo que eu tivesse envolvimento, não poderia ser preso porque o crime já tinha sido prescrito, como me disse o advogado”, argumenta.

                De volta para Itaporanga, o jovem terminou perdendo o trabalho, porque não teve condições emocionais de continuar no antigo emprego e perdeu algo ainda mais caro para qualquer pessoa: o sossego íntimo. “Hoje durmo à base de remédio e sofro psicologicamente, estou solto, mas minha cabeça continua presa”, desabafa.

                Ex-funcionário do Samu de Itaporanga, o jovem, que é técnico em enfermagem, hoje vive tentando superar as próprias algemas mentais e está em um novo emprego. Ele quer fazer de sua causa pessoal uma bandeira de luta coletiva. “Vou processar o estado e se for indenizado, pretendo reservar parte desse dinheiro para ajudar pessoas que estão passando o que eu passei, porque se eu não tivesse tido o apoio e uma ação imediata de minha família, a coisa tinha sido ainda mais complicada”, comenta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 
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